domingo, 1 de março de 2009

Cláusula do Elevador

Espero que todos conheçam o Luís Fernando Veríssimo. Se não conhecem eu apresento: O Luís Fernando Veríssimo é um dos melhor cronistas de todos os tempos. Apaixonei-me por ele quando tive Introdução à Literatura Brasileira na Faculdade. A primeira que li foi a "Cláusula do Elevador" em que dois advogados que se casam decidem fazer um acordo pré-nupcial. Quando chegam à parte da fidelidade ele achou que devia haver uma certa flexibilidade, isto é, havia "oportunidades imperdíveis". No caso, por exemplo de ficar preso num elevador com a Luana Piovani e ela dizer "Calor, né?". Pelo que, da parte dele, ficou decidido que seria permitida a dita infidelidade "no caso de ficar preso num elevador com a Patrícia Pillar, a Luma de Oliveira ou uma das duas (os as duas) moças do “Tchan”, além da Luana Piovani, se o socorro demorasse mais de vinte minutos".
A esposa, como a mim me parece óbvio e justíssimo, achou que assim sendo também havia de ter direito a alguma permissividade no campo. Ele não gostou e após muito tempo de vetos e discussão isto foi o decidido:
"Foi uma negociação longa e difícil, durante a qual ele vetou vários nomes, até ser obrigado a concordar com um, por absoluta falta de argumentos. Ela estaria liberada de ser fiel a ele se um dia ficasse presa num elevador com o Chico Buarque. Mas só com o Chico Buarque. E só se o socorro demorasse mais de uma hora!!"

Eu devo dizer que a minha cláusula de oportunidades imperdíveis é gigante, no entanto eu nunca irei ficar presa num elevador com o Dean,nem com o George Clooney e nem com o Chico Buarque. Uma pena.
Mas continuando com o Veríssimo, ele é um génio. Tem um humor inteligente e aguçado e no outro dia, em casa da Lua, chorámos a rir enquanto líamos as "Comédias para se ler na escola". Aliás, lembro-me de estar na praia no Verão às gargalhadas e a chorar de tanto rir com ele. Por isso, e ineditamente, deixo aqui a minha predilecta de todas, gosto de partilhar e sei por facto que muitos de nós andamos tristonhos. Bom riso:)

"Gosto da palavra “fornida”. É uma palavra que diz tudo o que quer dizer. Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é. Não gorda mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com “forno”. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.

Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida. Lascívia, imperatriz de Cântaro, filha de Pundonor. Imagino-a atraindo todos os jovens do reino para a cama real, decapitando os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia.

Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário - uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:

- Cisterna! Vanglória!

São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas - o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos - até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:

- Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.

Atrás de uma cortina, Muxoxo, o algoz, prepara seu longo cadastro para cortar a cabeça do trovador.

A história só não acaba mal porque o cavalo de Lipídio, Escarcéu, espia pela janela na hora em que Muxoxo vai decapitar seu dono, no momento entregue aos sassafrás, e dá o alarme. Lipídio pula da cama, veste seu reles rapidamente e sai pela janela, onde Escarcéu o espera.

Lascívia manda levantarem a Ponte de Safena, mas tarde demais. Lipídio e Escarcéu já galopam por motins e valiums, longe da vingança de Lascívia".


Et voilá!

3 comentários:

  1. Não gosto de lascívia, lembra-me lixívia e em sexo pensar em desinfectantes é complicado principalmente quando o melhor é sexo sujo, salvo seja ... xD

    Moral da história para mim ... Um gajo é "fornido" pelas mulheres e à sempre um ou outro homem que nos quer "forner" a "fornidela" ao menos os animais não nos "fornem".

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  2. Sensacional... até ficar só de reles... sensacional...

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  3. ta dificil...

    bem, ja me ri as gargalhadas com o livro que me emprestaste. é a melhor cura para a neura pós-trumatica pós-exames. Por acaso estava para passar a minha "estória" veríssimiana preferida para o blog, aquela que nos provocou espasmos de riso=)
    ai amo-te!

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