quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Batatas com grelo

Ora alguém me disse que talvez fosse interessante eu falar de batatas com grelo. Para provar que não,mas aceitando o desafio, acontece que até tenho umas histórias bonitas com grelos, batatas nem tanto, mas grelos sim. O que é que sucede, quando era miúda, pouquinho depois de descobrir que se dissesse "bilaca" todo um novo mundo se abria para mim, descobri os grelos. Acreditem ou não, os meus alimentos favoritos desde então e até hoje são: leite e grelos!, Grelos salteados então,nhami! Pois bem, reza a história que sozinha e com um metro de altura eram precisas 4 pessoas para me tirarem os grelos da frente porque eu nem queria a carne (eu não comia carne porque tinha pena dos bichinhos. Um dia a minha mãe disse-me que a carne que me davam era de lata e a partir daí foi um vê se te avias, quando descobri a verdade já o meu prato favorito era bife com batatas fritas). E pronto, a história dos grelos é esta. Não gosto de bróculos nem de couve,no entanto. E foi assim, Sofia.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Pasmada

Decidi há cerca de duas semanas (no dia em que o sol voltou a brindar-nos com a sua presença) que havia de ir para casa a pé quando saisse do trabalho. É longe, para os que se questionam, e tenho cumprido religiosamente. E cheguei a uma conclusão bonita. Estou completa e totalmente apaixonada. Explico. Até ir fazer Erasmus nunca me tinha apercebido da beleza desta cidade, achava-a horrível, suja, velha, nojenta e só queria ir embora. Continuo a só querer ir embora, mas os motivos são outros, fortíssimos, mas que não interessam nada agora. A verdade é que quando voltei para cá só queria voltar para onde estava porque lá os meus passeios eram sempre bonitos. Mas agora passo todos os dias pelas mesmas ruas e todos os dias tiro uma foto a cada uma,as horas não são sempre as mesmas,a luz é diferente. Ou seja, às vezes parece que sou maluca porque estou todos os dias naquele sítio a tirar uma foto com um olhar embevecido e apalermado, mas a verdade é que me comove. Ontem enquanto descia os Clérigos passei na Lello, eram umas 18h ou pouco antes, estava aquela luz lindíssima, azul, que enche os olhos e faz curto circuito quando se está a ouvir I'm From Barcelona e aquela visão se mistura toda. A Lello lá estava, como sempre, lindíssima. Mas fico sempre um bocado triste porque a Lello agora tem muitos "best-sellers" nas montras e não condiz como devia. O Senhor Lello & o seu Irmão devem estar a dar voltas no túmulo. Na verdade nem sei se o senhor até não será aquele velhote simpático a quem fui implorar trabalho um dia destes, mas pronto. Às vezes gostava de ser dona das livrarias todas,ou pelo menos daquelas de que mais gosto, para poder fazer com que mantivessem a sua dignidade e não entrassem em decadência.
Pelo menos a Lello tem uma vantagem, vai ser sempre tão bonita que as pessoas hão-de sempre lá entrar só para pasmarem. Pasmar é bem bom, aliás. Eu pasmo bastante...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Foi assim...

....em que eu explico o porquê de "foi assim". Tenho uma amiga há relativamente pouco tempo mas de quem gosto muito. A Sofia chama-me "foi assim" porque sempre que conto uma história que me aconteceu,ou onde eu aconteci que é diferente apesar de, no meu caso, os resultados serem taxativamente os mesmos, é assim que começo. Aliás geralmente até é "foi assim,eu fui atropelada...." e patatipatata por aí fora.
Ora voltando exactamente onde comecei, na parte do querer ser escritora, isso será sempre um mote bom para começar, ou seria vá,se escrevesse para crianças, mas ainda assim nas minhas histórias há sempre algo de criança porque é o que eu sou. Mas não me importo nadinha. Afinal acho que é por isso que os meus amigos gostam de mim,né?
Quando era pequena havia um programa para crianças muito famoso, não me lembro como se chamava mas o apresentador era o Lecas. Uma vez ele fez um passatempo que era o seguinte,a gente fazia um desenho e os três melhores ganhavam um prémio. Eu desenhei o Dr. Octopus, rival do Homem Aranha, se não me engano. Pois bem,ganhei o primeiro prémio, o Lecas mostrou o meu desenho na televisão e eu ganhei um skate que tinha a fotografia da Madonna por baixo,com um top de renda muito pouco próprio para meninos de 6 anos, mas bem giro. E foi assim.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Gatos

Todos os grandes escritores adoravam gatos. Hemingway por exemplo dava aos seus gatos nomes de pessoas famosas, como Pablo Picasso ou Simone de Beuvoir. Sabiam que os gatos dele tinham seis dedos em cada pata?
Eugénio de Andrade amava-os também "(...)é agora uma gatita rafeira e negra, com três ou quatro borradelas de cal na barriga. É ao sol dos seus olhos que talvez aqueça as mãos, e partilhe a leitura do Público ao domingo".
O gato é o melhor amigo do homem. Explico porquê: os gatos são animais extremamente limpos, vêm esperar o dono à porta e se ele anda pela casa a fazer coisas o gato anda sempre atrás. Os gatos são quentinhos e como são pequenos metem-se na cama e aquecem e confortam. Os gatos gostam de música. A preferida da Molly é o "Leãozinho" do Caetano Veloso.
Tantos dos grandes escreveram sobre eles. Tenho muito a imagem de alguém a escrever um poema enquanto bebe um copo de conhaque e acaricia um gato que está deitado no colo, ou pousado na mesa, patas em cima do papel do escritor,um pé quase a derrubar o copo de conhaque, e o escritor todo a sorrir-se para ele.

"Gato escaldado de água fria tem medo"
"Ser como cão e gato"
"O gato comeu-te a língua?"
"Línguas de gato"
"A curiosidade matou o gato"

Gosto disto. Vou ouvir o "Leãozinho".

Two shakes of a lamb's tail

Não posso afirmar isto com certeza, mas o Pulp Fiction é capaz de ser o meu filme favorito...Claro, há o Snatch...e o Lost in Translation, e, a competir com o primeiro, o Big Fish, mas desse falarei noutro post, é demasiado importante para mim..
Todos gostamos do Tarantino,até já é cliché, mas não posso fingir que não gosto né?..Gosto!..Ora, nele a Uma Thurman diz ao Travolta que não se preocupe que ela descerá em "Two shakes of a lamb's tail..." . "Chego aí num ápice, o tempo de um carneirinho abanar a cauda duas vezes!". Horrível, né? Mas não, é bonito. É mesmo bonito.
Eu vi o Pulp Fiction pela primeira vez muito nova,não me lembro quando foi,mas foi amor à primeira vista. Gostei tanto que depois devorei (termo que se usa para a leitura,mas que eu acho que também serve para o cinema) o Reservoir Dogs e a Jackie Brown...

Eu adoro gostar destas coisas,não sei porque,mas adoro gostar destes filmes e dos livros que leio e da música que ouço, porque se alguém me perguntar se sou feliz eu tenho sempre um avanço gigante. Eu sou feliz. Eu não caminho,saltito. Não sei estar séria,sorrio. Chorei de alegria quase tantas vezes como de tristeza (quase,também não sou de ferro), não canto,berro de forma desafinada e que maltrata os outros mas vem-me da alma,bem do fundinho. Quando estou triste vou ao youtube ver "A minha vida dava um filme indiano" mas também vou à página 28 da minha edição da "Correspondência de Fradique Mendes" quando ele diz "Sim,está de ananazes" e desmancho-me a rir com a mesma vontade. Não conseguiria (sobre)viver de outra forma.. Não sei se me faço entender... Aproveito tudo o que a vida me pode dar e vivo tudo com paixão. Por isso ouço as músicas em repetição até saber as letras de cor,e há certos livros que releio todos os anos. Cada sítio novo que visito e que me enche o coração fica-me na cabeça e não esqueço nenhum pormenor. Às vezes fico exausta de tanto pensar nas coisas. Dou um exemplo e com esse vou terminar que isto já está a ficar gigante. Há uns anos fui a Itália,e visitei Veneza, Roma,Florença, Nápoles, Milão, Siena, Pádua, Bolonha e uma cidadezinha minúscula chamada Assis,que é de onde era o S. Francisco. Acreditem ou não estou obcecada com essa cidade tão pequenina mas que tem o pôr do sol mais bonito do mundo,que cai atrás das casas de pedra e da igreja...Há uma praça muito bonita onde no Verão,às vezes, há teatro de rua. Pois bem, eu quero lá voltar...
Em dois minutos daquela viagem de 10 dias, quando o sol se pôs eu chorei a olhar para ele.."two shakes of a lamb's tail"...e foi-se...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Os livros e a máquina do tempo

Desde que nasci que adoro livros. Não que tenha tido grandes oportunidades para não gostar deles,mas acho que mesmo que tivesse nunca teria acontecido. Quando ia fazer vacinas davam-me livros como prémio de consolação, até me lembro,os das vacinas eram de uma colecção especial. "Columbina",era o nome da menina,tinha cabelo louro também, e andava de carrossel,ou a cavalo,ou ia ver a avó,era muito activa. Depois passei para os Astérix, Tintim e Lucky Luke,o Miguel tinha-os a todos e eu apaixonei-me por todos...Houve "Os cinco" pelo meio e outros que tal. Quando tinha 15 anos fui a Londres a primeira vez e lembro-me perfeitamente que li o "Orgulho e Preconceito" enquanto comia cookies (que fique claro desde já uma coisa:sou totalmente contra a a utilização de palavras estrangeiras no meio do nosso discurso,principalmente quando há palavra portuguesa para o conceito requerido. Mas neste caso eram cookies,estava em Londres e a ler o "Pride and Prejudice". Mas só desta vez).
A partir desse momento todo um novo mundo se abriu para mim e o secundário foi um vê se te avias. Foi quando li "Os Maias" pela 1a vez que descobri a máquina do tempo.Fui levada literalmente para todos aqueles lugares. Para o Lawrences,para Colares, para a Brasileira,para o teatro de S.Carlos e o Grémio e até o meu homónimo parece que me lembro de me dizerem que "devia ser mais ao menos por aqui".Ler passou a ser o meu passatempo,lia para tudo e em todas as ocasiões,até à mesa ao jantar,e nunca me apontaram nada por isso.Na verdade,para os meus pais,ler ao jantar era um excelente sinal.Por um lado descansavam e tinham silêncio. Por outro estava a cultivar-me,o que era uma grande coisa.
Finalmente acabei o secundário e fui para a faculdade. Fui estudar os livros e o alfabeto fonético ao mesmo tempo que declamava "rosa,rosas,rosam"'s no caminho para casa e no autocarro.
Livros. A minha casa tem paredes de papel que cheira a novo e, às vezes, a segunda mão. Gosto disso. Gosto bem.

Falar pelos cotovelos

Há quem diga que a minha necessidade de comunicar é tal que ultrapassa todos os limites do razoável. Aprendi a falar aos 6 meses porque não consegui fazer com que antecipassem as minhas necessidades. A minha primeira palavra foi "bilaca", ou seja, bolacha. Isto diz muito de uma pessoa, a minha interpretação pessoal é que sou criativa desde que nasci e que por isso ultrapassei a palavra "pai" ou "mãe" para expressar outras coisas que não eram dado adquirido. Talvez seja por isso que o meu livro favorito é "Os Maias" e que fico tão zangada quando alguém me diz que as primeiras 25 páginas são uma descrição chata! Para mim são arte,e da boa!
Claro que há sempre uma outra face em tudo,no meu caso parece que exaspero as pessoas de tanto falar. Não sei,sinto que tenho sempre tanto para dizer que pelos vistos até durante o sono falo. Quando era pequena e fazia viagens de carro ia sempre o caminho todo a cantar "A árvore da montanha" até não se poder acrescentar nada à desgraçada da árvore que acabava com famílias de toda a espécie de animal em cima e com um "agora cala-te um bocadinho para a mãe pensar,está bem?".
No liceu era tão popular como uma parede e ainda assim era feliz,achava que tinha a vida perfeita. Tocava piano e tinha jeito. E lia "Os cinco" também.
Resumindo,acabo neste momento de concluir a minha vida é a mesma de quando tinha 10 anos mas com umas particularidadezinhas...diferentes vá: tirei o curso que se previa, sou feliz com tudo o que é bonito,adoro passear, adoro música e livros,adoro o sol e alfarrabistas e, claro....falo pelos cotovelos!!!!!!

Eu queria ser uma escritora qualquer

Deparei-me com vontade de criar o meu primeiro blog. No fundo é quase como que o cumprir de uma promessa. Eu explico. Há uns anos valentes uns meninos ofereceram-me um caderno todo giro,muito branco e ainda por cima feito de papel reciclado e disseram-me: "Pega lá isso e começa a escrever o teu livro!".. (...)Passar a batata quente para mim desta forma até foi engraçado,no fundo o meu sonho era ser escritora,fosse do que fosse,e vontade não me faltava. Por isso o livro acabou por ficar na estante do quarto que agora é de hóspedes,ou para ser mais verdadeira,é do João. Mas isso é outra história. A verdade é que agora me deu vontade de desenterrá-lo do meio dos meus Hemmingways e Jorge Amados e livros espanhóis que nunca li mas que ficam bonitos para os hóspedes darem uma vista de olhos quando lhes faltar o sono. Ele lá estava,ainda branco,ainda reciclado e ainda sem uma única palavra. Decidi assim deixá-lo lá, para de futuro ser uma espécie de Prova A,ainda hei-de decidir. Para já fico com este,a ver se me vem o bichinho mais vezes.