terça-feira, 27 de julho de 2010

Guia de férias para indecisos e complicados

A primeira coisa de que temos de nos convencer (caso isso não seja espontâneo) é que somos os maiores. Ou seja, adoramos a nossa própria companhia e não precisamos de ninguém. É sempre melhor ler um livro ou vaguear nos pensamentos, ouvir músicas e pensar nas letras, do que estar com alguém num café a olhar para ontem sem nada para dizer. Recomendo filmes que não se vejam há muito tempo, ou aqueles do nosso top de novo ou, simplesmente, filmes novos. Recomendo também livros, especialmente para os que se queixam de falta de tempo para a leitura em tempo de trabalho (ainda que eu ache que tempo para ler há sempre). Leiam livros grandes e bons, daqueles que querem ser devorados e que ao mesmo tempo nos fazem ler uma página por dia só para não acabarem...porque há-os, e não são poucos.
Façam cursos de Verão, mais que não seja o mais provável é conhecer gente maravilhosa, lugares perfeitos.
Acordem cedo e vão à praia.
O Verão já não é como antes, já não há 3 ou 4 meses de férias. Se houver 3 semanas já é um pau (pardon my french).
Ouçam as músicas que vos enchem a alma. Ficar na cama deitado a ouvir música é produtivo. É mesmo.
Voltem ao piano, à guitarra, à gaita de beiços. Mesmo que já não toquem há anos. Sabe bem fechar os olhos e reparar que as mãos fazem tudo sozinhas.
A vida é uma delícia, aproveitem-na bem!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Onde anda você....

Vinicius de Moraes deu-nos uma Receita de Mulher, ensinou-nos o que é preciso Para Viver um Grande Amor. Desde pequeninos que vivemos naquela casa tão engraçada que não tinha tecto, nem tinha nada.
Ele ensinou-nos que a amar há que amar em grande, que todos os amores devem ser grandes, devem consumir-nos. Juntamente com o Chico Buarque cantou-nos aquela Valsinha tão eterna quanto a própria vida, pelo menos naquele momento em que ele "convidou-a para rodar"...também eu, pelo menos, gostava de estar naquela praça, ver o tempo parar.
Cantou-nos sambas e sonetos e valsas, coisa difícil de fazer...Cantou aos orixas, a Iemanjá. Melhor que qualquer professor, ele ensinou tudo.
O branco mais negro do Brasil.
Ensinou-nos que o amor deve ser infinito enquanto dure. Haverá lição mais sábia?
E que depois de um soneto de FIdelidade, muitas vezes, vem um soneto de Separação...e que por vezes temos Medo de Amar. Mas que isso não faz ninguém seguir...
Mas nada disso importa. O que importa é a Felicidade.
Até o seu nome é música.
O branco mais negro do Brasil era também o maior dos homens, o Poeta dos poetas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Just a few more hours....

São 4 da manha. So queria conseguir dormir. Pelo menos uma vez.
Alguem quer ir dar um passeio por ai e fumar um cigarro? Talvez ir a uma padaria que esteja a abrir comprar pão para o pequeno almoço, tomar um cafe? Nem sei o que mais me atormenta. Nem sei se seria melhor se soubesse.

Há para ai um ou dois mosquitos. As minhas gatas têm tanto calor que nem para os apanharem. E se fosse para ir beber uma coca cola com limão fresquinha? Já alguem saía da cama?
Já fui pintar as unhas. Deitei-me. Pus novas musicas no meu mp3. E agora vim para aqui.
E ainda são as 4h mais 10 minutos. Nem um bocejo sequer. Era nestas alturas que o Euclides ia para o meu quarto contar-me histórias. Era la pelas 6h que ia embora e eu adormecia.
Só consigo pensar nesta musica, não sei porquê:

Beth i hear you calling,
But I can´t come home right now
Me and the boys are playing
And we just can´t find the sound…
Just a few more hours and I´ll be right home to you
I think I hear them calling,
Oh Beth what can I do?
Beth what can I do?
You say you feel so empty,
That our house just ain´t a home
I´m always somewhere else
And you´re always there alone,
Just a few more hours and I´ll be right home to you
I think I hear them calling,
Oh Beth what can I do?
Beth what can I do?
Beth I know you´re lonely
And I hope you´ll be alright
Cause me and the boys will be playing, all night..

All night...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Será que também dói a cabeça aos gatos?

Não me importava nada de ser gato. Vaguear por aí, caçar passarinhos, voltar para casa e ter uma janela ao sol e um prato de leite, uma taça com água fresquinha. Gostava que me deixassem dormir na cama dos meus donos sem ser enxotada. E gostava muito que me coçassem a barriga e as orelhas. Não queria crianças na família para não me puxarem a cauda nem me fazerem maldades, mas se fosse uma criatura simpática que dormisse comigo não me importava. Gostava de ser gato de casa mas que tivesse um jardim onde pudesse ir passear de vez em quando, saltar a uns muros e cheirar a Natureza. Volta e meia gostava de perseguir a minha própria cauda e de me divertir com basicamente qualquer coisa que se mexesse. Miava para receber festas e colo. Levava presentes aos meus donos. As minhas tristezas limitavam-se a não poder sair sempre que quisesse e aos meus donos não abrirem a persina de manhã cedo para eu apanhar solinho matinal. As minhas alegrias seriam infinitas (excepto em dia de veterinário) e era feliz. Provavelmente não me doía a cabeça todos os dias.
Sim, não me importava nada de ser gato. A aparência não importava já que os gatos sofrem da sina de serem todos bonitos. Mais pêlo menos pêlo....

domingo, 4 de julho de 2010

Tripeiro de copo e alma

São 6h da manhã. O Porto, cidade de todas as cores, está agora pintado de azul escuro. Um azul que se mistura com o amarelo das luzes das pontes e com o vermelho dos semáforos. É incrível como os corpos que se arrastam para casa observam intrigados (ou algo fascinados) a chegada dos pescadores à beira da ponte. Esses homens que se levantaram às 4h da manhã e que às 4h30 já estão a montar tudo para começarem a trabalhar. É incrível como eu, depois de uma noite de momentos tão raros, me sinto tão preenchida por toda esta beleza. Já nem o sono me pode parar.
Vi um grupo tocar música popular e, como sempre, apetece-me juntar-me aos velhinhos e dançar. Aliás, dançar é só mesmo o que me apetece fazer.
E por fim chego a casa, corpo cansado e a mente...bem a mente nem se fala.
Tudo do que me lembro é das luzinhas do bar, do extremo calor que se faz sentir nas ruas e do azul do céu. Tão misterioso quanto a própria cidade. Que não é branca, nem é negra. É de todas as cores. São várias cidades. Tudo numa só. É a mais bonita do mundo inteiro e enche-nos as medidas.
No Porto quando se sai por aí, nunca se está sozinho.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

também foi assim

Quando eramos pequenos tinhamos uma senhora cá em casa que era como uma avó para nós. Cozinhava, contava histórias, era muito amiga. Era a Senhora Maria. A Senhora Maria pôs o meu pai a beber chá de hipericão todos os dias em jejum durante 10 anos. Ninguém dá ordens ao meu pai, mas a Senhora Maria impunha respeito! E tanto ele bebeu o dito chá que nunca mais teve problemas de fígado.
A Senhora Maria dizia "migalheiro" e "badalhoca". Eu costumava corrigi-la e repreendê-la mas ela achava gracinha e não se zangava. Afinal, eu dizia "bilaca" e chamava "Blhá" ao Miguel...
A Senhora Maria tinha tido um marido que lhe chegava a roupa ao pêlo todos os dias sem motivo aparente. Ela costumava dizer à minha mãe:

"Ai Sra. Doutora, Deus tem sido muito bom para mim! Eu costumava pedir-lhe "Dá-me pelo menos um ano de viuvez, pelo menos um", e olhe, já vou em 18!!! Abençoado!!".

Lembro-me bem da nossa primeira casa. Eu dormia na dispensa mas era o quarto mais adorável do mundo, todo feito à medida e branquinho. O Miguel tinha o quarto do fundo do corredor.
Davam-nos sempre tudo igual, o que um tinha o outro também tinha. Só que ele era poupado e eu não. Uma vez deram-nos um chocolate a cada um. Eu comi o meu numa hora, o dele durou 6 meses. Esconderam o dele no cimo de uma estante e eu subi, qual macaco, para o comer eu mesma. Descoberta e retirada do alto da estante, parti a cabeça do nosso cavalo de pau de um só golpe...
Isto aliado ao facto de a minha primeira palavra ter sido "bolacha" é preocupante...mas pronto, foi mesmo assim, e eu era feliz!

"Stuff and Nonsense"

Fui ao centro de saúde no outro dia. Médica nova porque fiz uma reclamação sobre uma outra que me tinha gritado e insultado. O SNS é uma paródia porque ando há cerca de 4 ou 5 anos à espera que me arranjem médico de família e me dizem que não há médicos. Então depois dessa "senhora" me ter feito o que fez e eu ter reclamado dela, por milagre, o chefe do centro de saúde decidiu que havia médico para mim e para todos os membros da minha família que o quisessem.
Fui à medica nova que, de forma muito profissional, começou a fazer-me perguntas sobre mim, medicamentos, operações, doenças, etc. Nesse processo não me olhou uma só vez. Passado um bocado perguntou:
"Já esteve grávida alguma vez?"
Digo eu "Não"
Ela: "E quando é que pretende estar?"
De novo, eu "Nunca, Sra Dra".
Aqui ela levantou a cabeça, olhou para mim com ar incrédulo e disse:
"Mas...nunca? Mas isso não é normal! Uma menina que não quer ter filhos?"
Eu "Sim"
Ela "Mas então ponho aqui na sua ficha? "Não quer ter filhos"??"
Eu "Não sei até que ponto isso é muito relevante, mas sim, pode pôr o que lhe aprouver!!!"
Ela "Bem...vou pôr assim: Aparentemente não quer ter filhos..."
Eu pergunto-me, já não vivemos no século XIX, se uma mulher quer ser independente e ter dinheiro para ter uma boa vida ninguém tem nada a ver com isso, não?
Às vezes temos mesmo de nos rir, né?=)