sexta-feira, 14 de maio de 2010

At least I can hold my licor...

"Se eu pudesse, por um dia, esse amor essa alegria, eu te juro, te daria, se pudesse esse amor todo o dia".

Seria de esperar que eu crescesse. Seria de esperar que a adultícia me fizesse mais fria, mais ponderada. Seria de esperar que aos 26 anos já soubesse abrir um pacote de ketchup sozinha sem o espalhar todo em cima de mim. E eu nem gosto de ketchup. Seria de esperar que eu crescesse. Que criasse certas capacidades. Seria de esperar que não me cortasse sempre que tento fazer alguma coisa na cozinha. Seria de esperar que aguentasse as saudades. Que não sofresse assim. Que não quisesse voltar.
Seria de esperar que já gostasse de polvo e que deixasse de gostar de ovo estrelado misturado com o arroz. Seria de esperar que crescesse e que não fosse só para os lados. Seria de esperar que deixasse de roer as unhas. Que acordasse cedo sem sofrer. Seria de esperar que já tivesse emprego e uma casa.

Mas a verdade é que gosto e que geralmente, aquilo que seria de esperar é aquilo a que temos de fugir mais depressa. Hei-de ser desastrada para sempre, a tendência aliás é piorar, e preferia não ser, mas não há nada a fazer...Hei de me mascarar no carnaval e de me colar a todas as portas que puder contigo...E hei de ter sempre saudades e ainda bem.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quotidiano nº 1

Moro no centro da cidade. Onde aliás acho que toda a gente devia morar ou, pelo menos, querer morar. Há um autocarro que cobre toda a baixa do Porto e que é aquele em que eu me movimento. Nesse autocarro, que era o 20, há uma quantidade de pessoas estranhas que poderia facilmente dividir por sub-grupos.
Há uma velhota a quem eu gosto de chamar pomo da discórdia. Isto porquê? A velhota não tem, claramente, o que fazer, e por isso anda no 20 mais ou menos todo o dia. Para se entreter faz o mesmo que o Adivinho do Astérix, diz umas coisas baixinho a uns e outras coisas não tão baixinho assim a outros e depois encosta-se a ver satifeita. Depois de umas cenas de pancadaria e baixarias que não repito porque, afinal, sou uma senhora, os intervenientes saem nas suas paragens. Mas logo alguém entra de novo e é informado do que aquele senhor disse sobre a sua mãe e começa tudo de novo.
Há uma outra que entra sempre na minha paragem e que é muito malcriada. No outro dia viu um rapaz que vive por estes lados e que é brasileiro, com uma carteira de mulher e jeito enfeminado. Durante as dezassete paragens seguintes foi com esta conversa, para quem quisesse ouvir:

"Estes gajos agora não percebo, é tringalha com tringalha, rachadela com rachadela, são uns badalhocos!!! Isso que prazer pode dar a alguém?! Tringalha com tringalha, rachadela com rachadela!!! Que badalhocos!!"

Depois há os pervertidos de 80 anos que ficam com calor sempre que uma mulher com menos de 40 entra no autocarro...
Já dizia o grande Zeca que o que faz falta é animar a malta:)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Kiss Kiss Bang Bang



Adoro ver pessoas a beijarem-se porque todos beijam de forma diferente e há tantos tipos de beijos. Beijos molhados, bejos repenicados, beijos na testa, beijos nas bochechas, beijos na mão, beijos na boca. Beijos de mãe e de pai, beijos de tias distantes acompanhados por alguns puxões de bochechas, beijos de irmão, beijos de amigos,beijos de gatos, beijos de amante. Beijos de despedida, beijos de boas vindas, beijos de comemoração, beijos de saudade, beijos de amor, experiências, .beijos de porque sim. É pelo beijo que nos conhecemos, seja de que maneira for.
Beijos porque beijar é bom e quantos mais tivermos na vida melhor.
Acho bonito os beijos urgentes dos adolescentes apaixonados e é lindo ver como, com a idade, os mesmos apressados são muitas vezes os que cultivam o beijar lento, quente, com que conquistam outros ex-adolescentes urgentes.
Eu já fui um desses.
:)

domingo, 2 de maio de 2010

Homem com H e Fascinação

Fascinação. Pura. A da Elis Regina mas o outro tipo também. Fui ver o Ney Matogrosso, e para os que pensem que fui sozinha só porque não levei companhia que se desenganem, o Ney estava lá em grande, namoradeiro, dono de uma voz intocável, teatral como sempre e maravilhoso.
Cantou tango, se tal é possível, e dançou. Já não é novo e não se veste de mulher, o que é uma pena. Ainda assim é ainda um bonito homem, provocador e simpático.
Saí de sorriso colado e ainda estou!
Entre as pessoas que admiro, que nem são tantas assim, está a minha avó. Mulher bonita, corajosa, forte, um pouco egoísta, ao que parece, fruto da educação que teve. Mas não comigo, nunca comigo. A minha avó mora num palácio. Aos olhos dos outros talvez não exactamente, talvez apenas viva num casarão grande e bonito, para mim é um palácio. Não só pelo tamanho ou pelos inúmeros tesouros perdidos que lá se encontram mas porque ela é uma princesa. Dona de uma elegância extravagante e de extremo bom gosto, loira de olhos verdes e curvas perfeitas. Quando era nova parava o trânsito e o sinaleiro fazia-lhe vénias. Suponho que nunca tinha visto tal beleza. Não o censuro.
Quando se ri faz covinhas nas bochechas e inveja a qualquer uma. Mas ela não é só beleza pura, é uma mulher de armas que sofreu tanto e sempre se recuperou com dignidade e força.
Na velhice é mais meiguinha, não o era tanto assim, excepto talvez comigo, não sei bem porquê. Há uns anos apareceu-lhe lá um gatinho abandonado e medroso a pedir mimo. Ela acolheu-o na cozinha e deu-lhe de comer. Uma vez ele apareceu-lhe lá a morrer a meio da noite e ela, com 81 anos, correu para o médico com ele ao colo para o salvar. Nem era o gato dela. Mas salvou-lhe a vida.
Hoje vivem os dois entre mimos e ronrons e miados eternos, ele sempre no colo dela e ela enternecida de todo.
A minha avó é uma Elizabeth Taylor, uma Katherine Hepburn. É a melhor do mundo.